Tenho-me deparado em terapia, e inevitavelmente com pessoas fora do contexto terapêutico, com uma visão curiosa sobre o seu mundo pessoal, principalmente no que diz respeito à ideia de sentir emoções. “Estou aqui porque não quero sentir ansiedade”, “como faço para não me zangar?”, “não me posso sentir frustrado” – estas são algumas das verbalizações que frequentemente aparecem em consulta. Uma necessidade de controlo sobre as emoções que iniba tudo o que de desagradável elas me possam trazer. Gosto de me aproximar desse medo – de o compreender e de o refletir – o que significa sentir? O que acontece quando sinto essa zanga? – mas também de o desafiar – o que aconteceria se não sentisse medo? Afinal, que função é que as emoções têm na nossa vida?
Se eu nunca me zangar, não vou perceber que há limites meus que estão a ser ultrapassados, se nunca me sentir ansioso, não vou compreender de que forma aquela situação é importante para mim, e se nunca tiver medo, vou provavelmente estar exposto a mais riscos.
Para podermos trabalhar sobre as emoções temos primeiro que entender a sua importância e a mensagem que nos querem transmitir, mesmo aquelas que sentimos como menos agradáveis. Numa perspetiva emocionalmente inteligente, procuro muitas vezes desconstruir com o paciente o nosso papel dentro das emoções – não consigo escolher o que sinto, mas posso escolher a forma como reajo à emoção. Não entrar em contacto com as emoções não nos torna mais funcionais, muito pelo contrário, vem reforçar a nossa perceção de incapacidade. Por outro lado, ao olharmos as emoções “de frente”, podemos aprender novas formas de pensar sobre elas e ganhar um leque mais alargado de respostas funcionais. Não existem emoções mais corretas que outras – podem sim existir partes nossas que nos ajudam a processar essa experiência emocional de forma mais enriquecedora.
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